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Mostrando postagens de 2018

SERIA EXAGERO USAR PRETO NO RÉVEILLON?

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Estou me perguntando que roupa usar no Réveillon desse ano. Dizem que as cores traduzem desejos e sentimentos. Mas confesso que as perspectivas políticas me preenchem de medo. Queria usar amarelo na festa. Afinal, precisamos ser práticos e pagar as contas desse negócio chamado vida. Mas suspeito que nem todo o amarelo do mundo vai convencer aquele “mentor” a orientar as políticas econômicas para o bem comum. Enquanto aplica as reformas neoliberais do lado de lá, do lado de cá haverá choro e ranger de dentes. Pensei no verde. Mas lembrei logo da Amazônia desmatada, devastada, asfaltada, toda pasto, toda seca, com suas entranhas minerais expostas. Lembrei da desconfiança geral em relação à crise climática e que futuros ministros despreparados negam verdades cientificamente provadas por meio de opiniões descabidas e obscenamente xucras. Talvez vermelho? Mas a paixão está controlada e, a depender do caso, proibida pelo jeito gospel de governar, que d

COM PLÍNIO, MINHA CASA É UM PARAÍSO DOMÉSTICO

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Mora na minha casa um animal sereno. Ele tem um pouco de mim e quase tudo de si mesmo. Ele se abre para os silêncios dos meus livros, os pratos, os quadros, os panos todos. Sua empresa ocorre pelas sombras, nos reflexos e nas aragens como eu mesmo nunca teria imaginado fazê-lo. Ele sabe mais da minha casa do que eu, porque ele vê tudo desde baixo, com o olhar horizontal de quem, grudado ao chão com suas quatro patas, ainda carrega as antigas ligações entre animais, vegetais e a terra. O homem não. O homem vê sempre de cima, verticalizando suas ideias, derramando suas objeções. Plínio tem essa preponderância de ensinar coisas desconhecidas. Professor sem disciplina, a sua lição é o exemplo da vida doméstica, da celebração da casa como paraíso doméstico. Habitando na minha casa, ele aprende a me esperar. Eu, quando chego, aprendo a lição da gratuidade revelada no sorriso que eu neguei para muitos durante os dias de correrias e afazeres, rendidos à soberania da press

O ÓDIO À FILOSOFIA ESTÁ ENTRE NÓS

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“Não haverá grandes probabilidades de nos salvarmos,  se não salvarmos a inteligência.” (José Saramago) Cresce entre nós, mais uma vez, a ideia de que o filósofo representa um perigo social. Esse chão já foi pisado. Ao lado do pensador colocaram criminosos, comunistas, vermelhos de todo tipo, bêbados, loucos, depravados, sodomitas, homossexuais e outros tantos indesejados. Gente dessa laia em geral, dizem os homens da ordem, deve ser cassada e proibida. Sua peste é seu descrédito. Foi assim no nazismo. Foi assim em todas as ditaduras. Uma das motivações centrais desse processo é aquilo que o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han tem chamado de sociedade positiva, descrita como um tipo de sociedade que anula toda negatividade, aplainando tudo e tornando raso, em nome de certo conforto trazido pela concordância e pela unanimidade que, por não saber lidar com o diferente, acaba por anulá-lo. Nada pode ser resistente, tudo deve ser favorável. Nessa lógica, da qual se alime

MINHA VIDA COM O PLÍNIO - primeiro capítulo

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Todos nós somos um poço de águas desconhecidas. Não sabemos das funduras até que elas nos olhem de volta e que algum reflexo de lá alcance nossos olhos miúdos, cansados da planície seca. Dentro, no fundo escuro, guardamos sentimentos, impulsos e afetos que vez ou outra, sem que a gente saiba porque, vêm à tona. Chamam isso de inconsciente. Força escura, insaciável, meio descontrolada. Foi isso que me aconteceu no início de agosto, quando eu vi pela primeira vez aquele filhotinho de Shitszu que eu batizei como Plínio, em homenagem ao filósofo naturalista romano, crítico das extravagâncias, que morreu de curiosidade visitando o Vesúvio em chamas. No olhar do Plínio sobre mim acabei por ver as minhas próprias funduras. Com o tempo eu entendi. Plínio vive em silêncio e passa os dias à minha espera. E é sob esse olhar absolutamente despretensioso que eu vou sentindo em mim coisas que eu não conhecia. Só quem tem um animalzinho como esse talvez entenda o que eu tento dizer (e fra