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Mostrando postagens de 2017

A CIDADE É ASSUNTO DE FILOSOFIA - E ESSE É O TEMA DO MEU NOVO LIVRO

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O recorde demográfico urbano, aliado aos desafios em termos de habitação, mobilidade, alimentação, emprego e questões ambientais, tornou-se um dado central para pensarmos a própria humanidade. É preciso, mais do que nunca, avaliarmos o impacto desse cenário sobre as relações humanas, a constituição das subjetividades, seu passado e suas potenciais futuras. Eis a problemática que mobilizou um filósofo e dois arquitetos urbanistas para debater o tema da cidade. O resultado é um livro instigante e provocativo, escrito em uma linguagem ensaística e dialogal, cuja acessibilidade torna a leitura instrutiva e aprazível. A soma de referências teóricas de cada uma das áreas, os relatos de experiências de cada um dos autores, as citações de poemas, filmes e obras de arte em geral são os ingredientes benéficos que fazem dessa obra um diálogo interdisciplinar sobre um dos temas mais importantes da nossa vida contemporânea. De um lado, Jelson Oliveira nos mostra como a filosofia, ao lo

MORRE FREI HENRI, DIANTE DE UMA ÁRVORE

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Recebi hoje, no aeroporto de Joanesburgo, na África do Sul, a triste notícia da morte de Frei Henri des Roziers, frade dominicano que trabalhou mais de 40 anos no combate ao trabalho escravo, na luta pela reforma agrária e pelos direitos humanos no Brasil. Henri morreu em Paris, no Convento onde passou os últimos anos de sua vida, com saúde frágil, uma atenção plena e uma alegria invejável. Fonte de inspiração de uma grande quantidade de pessoas, Henri reuniu ao seu lado uma centena de gente que conspira e se inspira conjuntamente, que se encontra em torno da vida desse homem que fez dos seus atos individuais, os gestos coletivos de luta e de resistência. Tenho orgulho de colocar o meu nome nessa lista.  Sua vida foi, sempre, uma vida política. E esse foi o convite que ele dirigiu a todos. E para isso, mostrava o caminho que ele mesmo seguira: as grandes utopias da liberdade, a radical experiência da fé encarnada vivida por homens como Antonio Montesinos e Bartolomeu de Las Ca

GAY NÃO PRECISA DE CURA, MAS DE RESPEITO

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Acho que o sentimento não é só meu: às vezes a gente acorda cedo e parece ter recuado milênios no tempo e milhares de quilômetros no espaço. A notícia de hoje, por exemplo, me levou para os piores dias da Idade Média ou para algum país como a Mauritânia, o Sudão ou a Arábia Saudita, onde a homossexualidade ainda é punida com pena de morte. Isso se chama retrocesso. E suas causas são a desinformação, o preconceito e a discriminação que costumam grassar facilmente com ajuda das canetas de magistrados brasileiros, filhos da elite que sequestrou um dos poderes da pátria para a defesa de seus privilégios. A decisão da justiça do Distrito Federal, que libera os psicólogos a tratarem a homossexualidade como doença, é desses sinais desoladores de que o Brasil está mesmo no caminho errado. Sobram incongruências e leviandades quando a justiça se rende aos interesses de pessoas moralistas e fundamentalistas que, como em tempos sombrios do passado, pregam purismos à revelia do

UM MENINO DE MIL OLHOS

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Quando o Vando chegou, nas terras antigas das missões gaúchas, os butiás começavam a florir à espera do verão. Outubro se erguia vigoroso sobre os telhados da Vila Hortêncio. À rua Zildo Eisman, entre a hípica e o carmelo, a gente cresceu livre. Quando era frio, o gelo dos campos quebrava sob os nossos passos depois da longa geada, até que o calor do sol varresse as neblinas para longe, como era costume. Nessa época a gente já brincava de viajar, agarrados pelas camisas: o Vando na direção, a Luciane com o Tito no colo, eu agarrado atrás. A gente ainda não sabia, mas ensaiava o grande destino da família. Um dia um caminhão encostou em frente à nossa casa e alguns homens carregaram a nossa mudança, enquanto minha mãe pedia cuidado com os móveis da cozinha. A gente viajou três dias. A gente não sabia o destino. Vando dizia que estávamos indo para Florianópolis. Na dicção das crianças, Figueirópolis ainda era um vocábulo indizível. Meu pai ria às gargalhadas. A gente só via est